Confesso que está cada vez mais difícil me comunicar nessa
sociedade que muda com rapidez os nomes das coisas, das profissões, abusando do
inglês, do internetês, do preconceito e de neologismos de todos os matizes.
Quando eu era moleque, as alternativas para iniciar no mercado de
trabalho eram aprendiz de arquivista e mensageiro. O primeiro era uma espécie
de ajudante geral do escritório e o mensageiro fazia o serviço de rua. Depois
ele se transformou em boy e hoje é motoboy.
Antigamente tinha intervalo para o cafezinho, hoje tem coffee
break. Certas expressões, como esta, estão tão arraigadas que muita gente as
usa sem consciência. Outro dia uma estagiária me convidou para “tomar um coffee
break”. Só faltava ter que comer um brunch! O Brunch não é só um nome novo, é
também uma opção nova, apropriada para quem não quer oferecer um almoço aos
convidados. Como seria em português? Boquinha. “Vamos fazer uma boquinha?”
O vendedor de antigamente jamais sonhou em ser um promotor de
vendas. Mas os vendedores de hoje já nascem promotores. Uma farsa para enganar
o cliente e o próprio profissional. Mudou o nome, mas a função é a mesma.
Há casos em que a mudança do nome é resultado de preconceito: empregada
doméstica agora é secretária, empregado virou colaborador. Nem a “marvada” pinga
sai ilesa: a bebida superou o preconceito e hoje está presente nos bares de classe
média, mas passou a ser chamada cachaça.
Chefe passou a ser boss e desempregado virou consultor. Você já recebeu um e-mail da pessoa se despedindo da empresa?
Demitido? Não, “vou partir para uma carreira solo, desenvolver projetos
pessoais”. Desempregado? Não, “montei uma consultoria”. Demissão também não
existe mais. Agora a empresa apenas avisa que está descontinuando o seu
contrato.
O Conselho de acionistas virou Board; presidente e diretor de
empresa, então, se transformaram em nomes tão impronunciáveis que só se usam as
iniciais: CEO, COO, CIO, CFO. O CEO manda no COO, que tem ao lado o CFO, o CIO
e outros cês. “O meu pai é o ciôu da empresa”.
Li no jornal: “O Rapidão Cometa é um dos maiores provedores logísticos
do País”. No meu tempo Cometa era uma empresa de ônibus.
As novas denominações contribuíram também para reduzir as despesas
nas empresas. O fornecedor manda o projeto e na última página aparece o valor
do “investimento”. Você não tem mais despesa, tudo é investimento.
E eu, que era jornalista, passei a ser provedor de conteúdo.
Em tempo:
CEO – Chief Executive Officer
COO – Chief Operations Officer
CIO – Chief Information
Officer
CFO
– Chief Financial Officer
Fonte: Joel Leite . Revista Assobrav Showroom – Fevereiro/2012
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